sexta-feira, 20 de abril de 2007

Trabalho.

Gosto dos carros passando, a curva em frente minha janela, o ônibus lotado descendo a rua devagar, o velho, o moço, o travesti, o mendigo, e eu gosto de estar no meio disso, vou cantando, esbarrando em tudo, na pressa de uns, no cambalear dos outros, vou pedindo desculpas, fazendo amizades de um segundo, fugindo do sol, da solidão.
Gosto do silêncio do teatro, seus corredores pintados de preto, pé direito alto e até, de seus fantasmas.
Odeio a música que não toca.
Gosto do cheiro do meu café, vem daquela cafeteira velha, zuada.
Odeio aquele boneco surrado, jogado no canto do camarin.
Eu gosto do cheiro do camarin.
Odeio a vulgaridade da luz. Audaciosa e sem sem graça.
Amo a humildade do carioca, do gordo tão boa praça, do Turrão, do puxa-saco, amo a molecagem dos atores pintados.
Dos últimos odeio, o pseu-intelectualizado. Furado, vulgarizado com Machado.
Eu odeio o diabo.
Amo o transviado e me lembrei do velho com cheiro de palha queimada, fumaça.
Amo o velho cheirador de pó,
Odeio o barulho do aspirador.
Amo o carpete,
odeio vermelho.
Amo o lugar onde eu não deveria estar.
Odeio e amo estar.

E *Agora?!



No som, pela manhã: Envelho na cidade - Ira.

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